domingo, 30 de outubro de 2011

Amanhã celebra-se o Dia da Reforma Protestante

Amanhã, dia 31 de outubro, é considerado o Dia da Reforma Protestante, por ter sido em 31 de outubro de 1517 o dia em que Martinho Lutero afixou as suas Noventa e Cinco Teses à porta da igreja de Wittenberg, onde atacava as vendas de indulgências (o perdão dos pecados mediante pagamento) praticada pela Igreja Romana na época.

Neste dia queremos agradecer a Deus por estes acontecimentos históricos realizados por meio da coragem de verdadeiros servos de Deus que, à semelhança dos primeiros cristãos, não temeram a própria morte por amor ao Evangelho de Cristo a fim de não deixar que as portas do inferno prevalecessem contra a Igreja do Senhor.


Uma breve história da Reforma Protestante

Pré-reformadores
Nos Séculos XIV e XV, surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra certos ensinos e práticas da Igreja Romana. Um deles foi encabeçado por João Wycliff (1325-1384), um sacerdote e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Wycliff atacou as irregularidades do clero, as superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a transubstanciação (doutrina que afirma que o pão e o vinho se transformam literalmente no corpo e no sangue de Cristo), o purgatório (suposto lugar onde os pecados não capitais são expurgados até que a alma atinja a pureza ideal para chegar ao céu), as indulgências (perdão dos pecados mediante pagamento), o celibato clerical (proibição do casamento aos sacerdotes) e as pretensões papais. Seus seguidores, conhecidos como os Lollardos, tinham a Bíblia como norma de fé que todos devem ler e interpretar. João Huss (1372-1415), um sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Boêmia, foi influenciado pelos escritos de Wycliff. Definia a igreja por uma vida semelhante à de Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o papa. Insistia na autoridade suprema das Escrituras. Huss foi condenado à fogueira pelo Concílio de Constança. Seus seguidores foram muito perseguidos. Foram os precursores dos Irmãos Morávios, outro grupo protestante cujas raízes são anteriores à Reforma. Outro indivíduo incluído entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola (1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege.

Abaixo gravuras de Savonarola, João Wycliff e João Huss:



O contexto social e religioso à época da Reforma
Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou “matemática da salvação” (débitos = pecados; créditos = boas obras). Foi bastante inusitado o episódio mais imediato que desencadeou o protesto de Lutero. Desde meados do Século XIV, cada novo líder do Sacro Império Romano era escolhido por um colégio eleitoral composto de quatro príncipes e três arcebispos. Em 1517, quando houve a eleição de um novo imperador, um dos três arcebispados eleitorais (o de Mainz ou Mogúncia) estava vago. Uma das famílias nobres que participavam desse processo, os Hohenzollern, resolveu tomar para si esse cargo e assim ter mais um voto no colégio eleitoral. Um jovem da família, Alberto, foi escolhido para ser o novo arcebispo, mas havia dois problemas: ele era leigo e não tinha a idade mínima exigida pela lei canônica para exercer esse ofício. O primeiro problema foi sanado com a sua rápida ordenação ao sacerdócio. Quanto ao impedimento da idade, era necessária uma autorização especial do papa, o que levou a um negócio altamente vantajoso para ambas as partes. A família nobre comprou a autorização do papa Leão X mediante um empréstimo feito junto aos banqueiros Fugger, de Augsburgo. E, ao mesmo tempo, o papa autorizou o novo arcebispo Alberto de Brandemburgo a fazer uma venda especial de indulgências, dividindo os rendimentos da seguinte maneira: parte serviria para o pagamento do empréstimo feito pela família e a outra parte iria para as obras da Catedral de São Pedro, em Roma. E assim foi feito. Tão logo foi instalado no seu cargo, Alberto encarregou o dominicano João Tetzel de fazer a venda das indulgências (o perdão das penas temporais do pecado). Quando Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se sobre o assunto.

Martinho Lutero (1483-1546)
Martinho Lutero nasceu em 1483 na pequena cidade de Eisleben, na Turíngia, em um lar muito religioso. Seu pai trabalhava nas minas e a família tinha uma vida confortável. Inicialmente, o jovem pretendeu seguir a carreira jurídica, mas em 1505 defrontou-se com a morte em uma tempestade e resolveu abraçar a vida religiosa. Ingressou no mosteiro agostiniano de Erfurt, onde se dedicou a uma intensa busca da salvação. Em 1512, tornou-se professor da Universidade de Wittenberg, onde passou a ministrar cursos sobre vários livros da Bíblia, como Gálatas e Romanos. Isso lhe deu um novo entendimento acerca da “justiça de Deus”: ela não era simplesmente uma expressão da severidade de Deus, mas do seu amor que justifica o pecador mediante a fé em Jesus Cristo (Romanos 1:17). No dia 31 de outubro de 1517, diante da venda das indulgências por João Tetzel, Lutero afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas Noventa e Cinco Teses, a maneira usual de convidar-se uma comunidade acadêmica para debater algum assunto. Logo, uma cópia das teses chegou às mãos do arcebispo, que as enviou a Roma. No ano seguinte, Lutero foi convocado para ir a Roma a fim de responder à acusação de heresia. Recusando-se a ir, foi entrevistado pelo cardeal Cajetano e manteve as suas posições. Em 1519, Lutero participou de um debate em Leipzig com o dominicano João Eck, no qual defendeu o pré-reformador João Huss e afirmou que os concílios e os papas podiam errar. Em 1520, a bula papal Exsurge Domine (do latim, significa “Levanta-te, Senhor”) deu-lhe sessenta dias para retratar-se ou ser excomungado. Os estudantes e professores da universidade queimaram a bula e um exemplar da lei canônica em praça pública. Nesse mesmo ano, Lutero escreveu várias obras importantes, especialmente três: "À Nobreza Cristã da Nação Alemã", "O Cativeiro Babilônico da Igreja" e "A Liberdade do Cristão". Isso lhe deu notoriedade imediata em toda a Europa e aumentou a sua popularidade na Alemanha. No início de 1521, foi publicada a bula de excomunhão, Decet Pontificem Romanum (do latim, significa "beneficia o Pontífice Romano"). Nesse ano, Lutero compareceu a uma reunião do parlamento, a Dieta de Worms, onde reafirmou as suas idéias. Foi promulgado contra ele o Edito de Worms, que o levou a refugiar-se no castelo de Wartburgo, sob a proteção do príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio. Ali, Lutero começou a produzir uma obra-prima da literatura alemã, a sua tradução das Escrituras.

Abaixo, uma gravura de Martinho Lutero e o poster do filme lançado em 2003 que conta a vida deste reformador de uma maneira bastante fiel à história.



A Reforma na Alemanha
A partir de então, a reforma luterana difundiu-se rapidamente no Sacro Império, sendo abraçada por vários principados alemães. Isso levou a dificuldades crescentes com os principados católicos, com o novo imperador Carlos V (1519-1556) e com o parlamento (Dieta). Na Dieta de 1526, houve uma atitude de tolerância para com os luteranos, mas em 1529 a Dieta de Spira reverteu essa política conciliadora. Diante disso, os líderes luteranos fizeram um protesto formal que deu origem ao nome histórico “protestantes”. No ano seguinte, o auxiliar e eventual sucessor de Lutero, Filipe Melanchton (1497-1560), apresentou ao imperador Carlos V a Confissão de Augsburgo, um importante documento que definia em 21 artigos a doutrina luterana e indicava sete erros que Lutero via na Igreja Romana. Os problemas político-religiosos levaram a um período de guerras entre católicos e protestantes (1546-1555), que terminaram com um tratado, a Paz de Augsburgo. O luteranismo também se difundiu em outras partes da Europa, principalmente nos países nórdicos, surgindo igrejas nacionais luteranas na Suécia (1527), Dinamarca (1537), Noruega (1539) e Islândia (1554). Lutero e os demais reformadores defenderam alguns princípios básicos que viriam a caracterizar as convicções e práticas protestantes: sola Scriptura, solo Christo, sola gratia, sola fides, soli Deo gloria. Outro princípio aceito por todos foi o do sacerdócio universal dos fiéis.

Os cinco "solas" da Reforma Protestante de 1517

Sola fide ("somente a fé")
Também conhecida, historicamente, como Doutrina da justificação pela Fé, é a Doutrina que distingue denominações Protestantes da Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa e outras.

Sola scriptura ("somente  a Escritura") 
Segundo a Reforma (século XVI) é o principio no qual a Bíblia tem primazia ante à Tradição legada pelo magistério quando os princípios doutrinários entre estas e aquelas forem conflitantes. Na Reforma, não se rejeita a Tradição, ela continua a ser usada como legitimadora para qualquer assunto omitido pela Bíblia. 

Solo Christo ("somente Cristo")
É um dos cinco solas propostos pelos reformistas para resumir as crenças fundamentais do Cristianismo. Esta expressão latina refere-se ao termo: "salvação somente por Cristo". 

Sola gratia ("somente a graça") é diferente de Sola fide porque fé é considerado isoladamente, que só pode ser concedida gratuitamente por Deus a quem Lhe apraz. Esta doutrina está especialmente ligada ao Calvinismo (ramo protestante iniciado pelo suíço João Calvino), à eleição incondicional, à predestinação decretiva e ao monergismo (conceito teológico que diz que a salvação e a santificação do convertido advém inteiramente de Deus). 

Soli Deo gloria ("Glória somente a Deus")
É o princípio segundo o qual toda a glória é devida a Deus por si só, uma vez que salvação é efetuada exclusivamente através de sua vontade e ação. Não só o dom da expiação de Jesus na cruz, mas também o dom da fé, criada no coração do crente pelo Espírito Santo.


“Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não das obras, para que ninguém se glorie.” (Ef.2:8-9).

“Não por obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante a lavagem da regeneração e da renovação pelo Espírito Santo.” (Tt.3:5).

“Sabemos que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, Também temos crido em Jesus Cristo pra sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei, porque pelas obras da lei ninguém será justificado.” (Gl.2:16).

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